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Artigos - Lançado novo
remédio para hepatite C
Rio de Janeiro
- O laboratório Schering-Plough lançou hoje o medicamento Pegintron
(princípio ativo peginterferona alfa 2-b) que, segundo a empresa, tem potencial
para erradicar a hepatite C. A doença foi detectada no final da década de 80 e
hoje atinge mais de 3% da população brasileira (de 2 milhões a 3 milhões de
pessoas), contingente calculado a partir de pesquisas feitas em bancos de
sangue. Segundo pesquisadores brasileiros, da Espanha e dos EUA, especialistas
em hepatite convidados pelo laboratório para falar sobre os efeitos da nova
droga, o tratamento deve durar um ano. A droga é inédita, e não há similar
de outro laboratório.A Schering-Plough investiu entre US$ 250 milhões e US$
350 milhões, em dez anos, para aperfeiçoar a molécula interferona, base do
princípio ativo do medicamento. A interferona foi descoberta pelo próprio
laboratório. A droga começou a ser vendida nos Estados Unidos e Europa, no ano
passado, e em abril finalizou seu processo de registro local, para entrar no
mercado brasileiro a partir de hoje. Devido ao custo do medicamento, a maior
parte das vendas deverá ficar por conta de distribuidoras, nas quais os
consumidores podem conseguir descontos de até 30%.O medicamento é vendido no
varejo em três apresentações, de 80 microgramas, por R$ 978,41; de 100
microgramas, por R$ 1.190,87, e a de 120 microgramas, por R$ 1.428,48. O
tratamento consiste de uma ampola para aplicação subcutânea por semana,
durante um ano, com dosagem de acordo com o peso do paciente. O custo mensal do
tratamento para cada tipo de dosagem, iniciando pela mais baixa, seria de R$
3.913,00, R$ 4.763,00 ou R$ 5.713,00, respectivamente. E o anual, de R$
46.963,00; R$ 57.161,00 ou R$ 68.567,00.
Após 12 meses de tratamento, o
paciente passa por observação durante meio ano, período em que será definida
a erradicação do vírus HCV, que provoca a hepatite C. Além disso, a nova
droga deve ser ministrada em conjunto com o antiviral Rebetol (princípio ativo
ribavirina), via oral, cujo custo é de R$ 0,90 por comprimido. O tratamento
poderá substituir o antigo, que consistia de três doses semanais de
interferona subcutânea em conjunto com a medicação oral, com custo total de
R$ 250, por mês.
O governo brasileiro estuda o
custo das internações e dos tratamentos de cirrose hepática, câncer no
fígado e transplantes, para decidir se em certos casos optará pelo Pegintron,
para tratar pacientes pelo Sistema Único de Saúde, informou o gerente
executivo de Marketing da Schering-Plough no Brasil, Franco de Oliveira. Segundo
ele, além do desconto de 30%, via distribuidora, o governo poderá negociar com
o laboratório maior redução do custo. "Queremos fazer aliança com o
governo", disse.
Franco de Oliveira afirma que no
primeiro ano de vendas do Pegintron no Brasil, o laboratório deverá faturar
entre R$ 3 milhões e R$ 4 milhões. A receita nos anos posteriores dependerá
da adesão do poder público à distribuição gratuita do novo tratamento, já
que o próprio executivo reconhece que o valor do tratamento não é acessível
a grande parte dos contaminados.
Hepatite A, B e C
A diferença entre os
diferentes tipos de hepatite: a do tipo A pode ser contraída pela boca, por
meio da ingestão de água ou comida contaminada, e é curável; a do tipo B,
por contato sexual, uso em compartilhado de seringas mal desinfetadas e
transfusão de sangue, e caracteriza-se por ser aguda, mas pode ser tratada e
não se torna crônica.A hepatite C é a única que se
torna crônica e pode evoluir, a longo prazo, para câncer de fígado e cirrose
hepática, doenças que podem causar a morte.As estimativas do Schering-Plough
apontam para 200 milhões de casos em todo o mundo.O especialista observa que o
número de casos pode ser muito maior do que o registrado em bancos de sangue,
porque a população em geral não doa sangue. Como os sintomas da doença podem
demorar a ocorrer e confundir-se com os da gripe, os portadores só descobrem
que têm a doença ao fazer o exame de sangue - única forma de detectar o HCV
no organismo.
Promessa de cura para hepatite C
Luigi Poniwass - Rio de Janeiro
Um inimigo silencioso ronda boa parte da
população mundial. Transmitida principalmente por transfusão sangüínea, a
hepatite C é assintomática (não apresenta sintomas), e em 70% a 85% dos casos
torna-se crônica, podendo evoluir para uma cirrose ou um câncer de fígado.
Estima-se que existam no mundo cerca de 200 milhões de pessoas infectadas pelo
vírus da hepatite C, o HCV. No Brasil, esse número poderia atingir de 2 a 3
milhões de infectados. Até a semana passada, as únicas alternativas dos
portadores do HCV eram o tratamento com Interferon mais Ribavarina - com índice
de cura de aproximadamente 47% - ou a fila do transplante de fígado.
Terça-feira, porém, a multinacional americana Schering-Plough anunciou no Rio
de Janeiro o lançamento de um medicamento que promete revolucionar o tratamento
da hepatite C: a PegInterferona alfa-2b, que será comercializada com nome de
PegIntron. Nos testes realizados até agora com 1.530 pacientes de 62
instituições dos Estados Unidos, Canadá e Europa, a droga conseguiu combater
o vírus em 72% dos casos, quando associada ao antiviral Ribavarina. O remédio
já está aprovado e disponível no Brasil, e sua distribuição pelas
farmácias e distribuidoras começou esta semana. Além do potencial de cura, o
PegIntron possui outras vantagens em relação à Interferona convencional: a
primeira é o número de injeções, que é 66% menor no novo remédio. O risco
de complicações que podem provocar cirrose ou câncer também diminui de 59% (Interferon)
para 28%. Outra vantagem seria a dose individualizada. "Disponível em dose
única, a Interferona apresenta menos eficácia para pacientes com mais de 55kg;
por isso o PegIntron virá em três apresentações (80, 100 e 120 microgramas),
que podem ser administradas de acordo com o peso de cada paciente", explica
o diretor médico da multinacional, Celso Sustovich. Além disso, segundo os
cálculos da Schering-Plough, o medicamento permitiria uma redução de 50% nos
custos variáveis com internações e transplantes. "Um transplante de
fígado, fora da fila do SUS, custa em média R$ 50 mil, e ainda são
necessários 90 comprimidos mensais de Ciclosporina durante toda a vida para
evitar a rejeição, o que representaria um gasto de mais R$ 1 mil por
mês", informa Franco de Oliveira, gerente executivo de marketing da
multinacional. "Com o PegIntron, esse paciente gastaria R$ 4.317,69 por
mês, durante um ano, e teria grandes chances de se livrar da doença para
sempre." Os médicos que estão estudando o PegIntron perceberam que os
efeitos colaterais são semelhantes aos da Interferona - dor muscular, um pouco
de febre no início do tratamento, menos apetite e diminuição de glóbulos
brancos e vermelhos. As contra-indicações também são semelhantes - quadro de
anemia, depressão não tratada e alguns tipos de câncer. Mas ele pode ser
usado sem problemas em pacientes soropositivos e gestantes, além de se mostrar
eficaz em pessoas de qualquer idade e em diferentes níveis de evolução da
doença. Aval Os especialistas corroboram a eficácia do tratamento. "Esse
é um medicamento de alta eficiência; graças a ele, vamos evitar a imensa
maioria de ocorrências de cirrose e câncer provocadas pela hepatite C",
afirma Henrique Sérgio Moraes Coelho, professor adjunto do Departamento de
Clínica Médica da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de
Janeiro (UFRJ), e chefe do Serviço de Gastroenterologia do Hospital
Universitário Clementino Fraga Filho (UFRJ). "É uma excelente notícia
para os médicos e para o País". Esteban Mur, chefe de Medicina Interna e
Hepatologia do Hospital Vall d'Hebron, em Barcelona, também se diz otimista:
"Depois de seis meses, a grande maioria dos pacientes está curada, e
praticamente não existe reincidência", declara. "É uma evolução
que não pode ser medida." Mas o remédio tem um calcanhar de Aquiles: o
preço. O tratamento custa em média de R$ 3.913 (80 microgramas) a R$ 5.713
(120 microgramas) por mês, ou de R$ 46.903,00 a R$ 68.567,00 por ano,
inacessível para a maior parte da população. E durante dez anos - tempo de
duração da patente - não existe a possibilidade de comercialização de
genéricos ou similares. Mas a indústria adiantou que tem interesse em negociar
com o poder público. "O governo também parece disposto, já entrou em
contato conosco", comentou o gerente de marketing da Schering. Ele acha que
o Ministério da Saúde em breve deve adotar oficialmente o PegIntron no
tratamento da hepatite C. "Os técnicos vão perceber que o impacto
fármaco-econômico do PegIntron é bem menor do que o que o governo gastaria no
tratamento de cirrose e câncer e nos transplantes", observa. "As
empresas precisam ganhar dinheiro, mas o governo pode ter esses medicamentos
pela metade do preço, e viabilizar o acesso para a população carente."
Aprovado O PegIntron foi aprovado pelo Food and Drug Administration (FDA), o
órgão responsável pelo controle e fiscalização de medicamentos nos Estados
Unidos, e já está sendo comercializado em vários países da Comunidade
Européia, como Reino Unido, Espanha, Alemanha, Portugal, Áustria, Suécia,
Finlândia, entre outros. A Secretaria Estadual da Saúde informou, por meio de
sua assessoria, que o Paraná só está aguardando a padronização do PegIntron
e a sua inserção no protocolo do Ministério da Saúde para remédios de alto
custo, seguido por todos os Estados brasileiros. "A hora que o Ministério
liberar, o remédio poderá ser adquirido pela secretaria." Contaminação
ignorada A contaminação pelo vírus da hepatite C acontece principalmente por
via parenteral (transfusões de sangue e uso de seringas e agulhas
contaminadas). Desde 1991, é feito o exame anti-HCV em todas as doações, o
que reduziu maciçamente a propagação da doença desde então. Há uma parcela
significativa de portadores do vírus, porém, cuja contaminação aconteceu de
maneira ignorada pelos médicos. Esse número corresponde à metade dos
infectados. Como o vírus é assintomático e pode ficar alojado durante
décadas sem que o portador perceba qualquer alteração, as pessoas que doaram
sangue ou fizeram alguma cirurgia antes de 1991 estão no chamado grupo de
risco. Também fazem parte desse grupo os usuários de drogas injetáveis,
pessoas com parceiros positivos (embora a transmissão por via sexual seja
insignificante), profissionais de saúde, presidiários, pessoas que se
submeteram a tratamentos odontológicos invasivos, tatuados, hemofílicos e
portadores de insuficiência renal, além de qualquer pessoa que tenha tido
contato com agulhas e/ou instrumentos perfuro-cortantes que porventura não
tenham sido esterilizados. No Paraná foi verificado um tipo muito particular de
contaminação: por transplante de medula óssea. Um estudo de Muzzillo-Jackson,
publicado no ano passado, demonstrou que 21% dos transplantados tinham o vírus
da hepatite C. No quadro geral, entretanto, o Paraná apresenta um dos menores
índices de contaminação do Brasil. Uma pesquisa feita em 1999 pela Sociedade
Brasileira de Hepatologia (SBH) entre os doadores de sangue, mostrou que o
Paraná tinha apenas 0,7% de portadores do vírus, contra 2,6% em São Paulo e
5,9% no Acre. Os especialistas alertam, porém, que esta não é uma
estatística confiável, por se referir exclusivamente à população doadora de
sangue. Os médicos também chamam a atenção para o fato de que a hepatite C
não deve provocar pânico entre os doadores. "Doar sangue não provoca
hepatite, pois os hemocentros só trabalham com materiais descartáveis",
ressalta Flair José Carrilho, médico e professor do departamento de
Gastroenterologia da Universidade de São Paulo (USP). "Pelo contrário: ao
doar sangue, você pode ficar sabendo se tem ou não o vírus". (LP)
Por se tratar de um artigo da maior importância quanto ao manejo da Hepatite C
aguda, o que pode refletir nas medidas de profilaxia pós-exposição de
acidentes com patógenos sanguíneos, optamos por uma análise mais profunda do
artigo, ao invés de um simples resumo. (...)
Aspectos Gerais
Mais de 180 milhões de pessoas no mundo
são portadores crônicos do vírus da hepatite C. A quantidade de partículas
virais por mililitro de sangue que é de varia entre 101 a 106.
O risco de transmissão do vírus ocorre em exposições percutâneas ou mucosas
envolvendo sangue ou qualquer outro material biológico contendo sangue. O risco
estimado após exposições percutâneas é de 1,8 a 3%.Não existe nenhuma
medida específica eficaz para redução do risco de transmissão após
exposição ocupacional ao vírus da hepatite C. Os estudos não comprovaram
nenhum benefício profilático com o uso de gamaglobulina ou do interferon
pós-exposição. A única medida eficaz para eliminação do risco de
infecção pelo vírus da hepatite C é por meio da prevenção da ocorrência
do acidente.Apesar de não haver nenhuma medida específica para a prevenção
da contaminação pelo vírus da hepatite C, é importante que sempre sejam
realizadas a investigação do paciente-fonte e o acompanhamento sorológico do
profissional de saúde para se comprovar uma doença ocupacional caso haja a
contaminação do profissional.
Em exposições com paciente-fonte
infectado pelo vírus da hepatite C e naquelas com fonte desconhecida, está
recomendado o acompanhamento do profissional de saúde com realização de
dosagem de transaminase glutâmico-pirúvica (TGP) no momento, 6 semanas e 6
meses após o acidente e o acompanhamento sorológico (anti-HCV por técnica
imunoenzimática) 6 meses após o acidente. A pesquisa de RNA viral por
técnicas de biologia molecular permite o diagnóstico precoce de soroconversão
e deve ser realizada nas primeiras 2 a 6 semanas após a exposição. Resultados
promissores parecem ser encontrados com o tratamento de casos agudos de
infecção.
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